quarta-feira, 9 de maio de 2007

O Cinema Contemporâneo

Inaugurando a mais nova toca de alguém que não gosta de falar, hohoho

Belíssimo artigo do colunista Daniel Dalpizzolo do site, www.cineplayers.com, que fala sobre a história do cinema contemporâneo, ótima definição de algo pouco viciante do dono deste blog =p


"

Durante o per�odo de transi��o do cinema �sessentista� para o �setentista�, podemos notar uma grandiosa evolu��o no tocante � exposi��o de tem�ticas politicamente engajadas e que procuravam retratar da maneira mais fiel poss�vel � realidade vivida pelos espectadores em seus diversos meios de conviv�ncia social. Aquela fant�stica magia que embebedava de utopias os freq�entadores dos cinemas no per�odo cl�ssico estivera extinta do primeiro escal�o da ind�stria f�lmica durante alguns bons anos (tanto que os poucos musicais e faroestes feitos nos anos 1970 abordavam sempre, de forma muito r�spida, a decad�ncia f�sica e moral de seus personagens e/ou espa�os) at� que certo acontecimento, a ser citado subseq�entemente neste mesmo artigo, mudara novamente o ritmo das �guas em Hollywood � que normalmente dita as regras cinematogr�ficas no mundo todo.

Ainda no in�cio desta d�cada, em 1971, dois filmes j� fizeram quest�o de apresentar �s plat�ias qual seria o tom empregado nas abordagens tem�ticas das obras desse per�odo. O primeiro, Opera��o Fran�a, de William Friedkin, tinha como proposta uma vis�o mais suja e violenta da realidade das ruas de Nova York. � um filme que procura mostrar de maneira mais transparente e at� mesmo ousada, para a �poca de seu lan�amento, a dura conviv�ncia entre criminosos e lei, retratando a figura do policial de uma forma muito mais humanizada, sem empregar �s suas a��es aquele tom de super-hero�smo comumente encontrado nas ing�nuas produ��es das d�cadas anteriores � sem contar, claro, a canastrice e a intelig�ncia dos detetives que protagonizavam os saudosos filmes noir, totalmente paradoxais a esta ingenuidade.

J� o segundo exemplo, desta feita a obra-prima Laranja Mec�nica, de Stanley Kubrick, permanece at� os dias de hoje como uma das fitas mais marcantes, ousadas e impolidas j� produzidas. � um conto brutal e de imensur�vel import�ncia, onde valores sociais s�o relegados � insignific�ncia diante da amarga �tica do g�nio Kubrick sobre a condi��o moral da sociedade � se na �poca o filme servira como premonit�rio, agora passa a ser alusivo, diante da degradante realidade em que vivemos. Para tanto, tece aquele que � um dos estudos mais completos e irretoc�veis sobre a hipocrisia social (de compar�vel, lembro-me, no momento, apenas do fabuloso Dogville, de Lars Von Trier), utilizando-se de uma t�cnica invej�vel e de uma constru��o ficcional t�o perfeita quanto interessante. Permanece, para a pessoa que vos fala, como um dos maiores filmes da hist�ria do cinema � e um representante �bvio do per�odo cinematogr�fico em quest�o.

No ano seguinte, surgiria outra obra cl�ssica imprescind�vel para a compreens�o e interpreta��o do cinema da d�cada de 1970, por�m n�o da vertente pol�tica, e sim autoral. Trato de O Poderoso Chef�o, realizado por um dos cineastas mais f�rteis deste per�odo, Francis Ford Coppola, que mais tarde viria a se aprofundar em obras inexplicavelmente irrelevantes. Por�m, antes disso, deixou em seu legado algumas das fitas mais finas e importantes que podem ser encontradas no mundo cinematogr�fico. A s�rie que narra de maneira �pica e po�tica o cotidiano da m�fia italiana seria composta, tamb�m, por O Poderoso Chef�o - Parte II, de 1975 e O Poderoso Chef�o - Parte III, desta feita na d�cada de 90 � sendo a mais fraca das obras, mesmo que seja de alto n�vel (o destaque, dentre elas, vai para a segunda parte, n�o t�o marcante quanto a primeira, mas muito mais completa em sua narrativa).

Em meio a este n�cleo do cinema autoral e pol�tico dos anos 1970, v�rias obras e realizadores merecem destaque, tanto por sua grande qualidade quanto pela representatividade clara da maneira de filmar encontrada nesse per�odo. Filmes pol�ticos eram realizados em diversos lugares do mundo, mas o �centr�o� do cinema, ou seja, Hollywood, surpreendentemente tamb�m demonstrava grande interesse neste tipo de produto � algo que habitualmente era deixado de lado em prol da divers�o. Podemos destacar, entre os principais filmes que se utilizaram dessa vis�o, a obra-prima m�xima de Martin Scorsese, o genial Taxi Driver (1976), a com�dia sat�rica M.A.S.H. (1970), de Robert Altman (na minha opini�o fraca, por�m representativa) e Apocalypse Now (1979), do supracitado Francis Ford Coppola, no qual retrata a imbecilidade e a loucura proporcionada pela guerra, em um dos filmes mais fenomenais que existem.

J� na vertente autoral e n�o t�o pol�tica da d�cada, tamb�m podemos encontrar diversas obras indispens�veis � vis�o de qualquer cin�filo, bem como o surgimento de grandes diretores que se mant�m at� hoje como mestres, muitos deles ainda vivos. Alguns exemplos seriam Woody Allen, que �constru�ra� neste per�odo aquela que � sua maior obra-prima, a melhor hist�ria de amor c�mica do cinema, Noivo Neur�tico, Noiva Nervosa (1977); Brian De Palma, com o inigual�vel filme de horror Carrie � A Estranha; Milos Forman, com Um Estranho no Ninho (1975) � embora, particularmente, do diretor, prefira Hair (1979), por�m com uma inclina��o mais pessoal do que art�stica -; Roman Polanski, e seu maior sucesso, o neo-noir Chinatown (1974); e novamente Stanley Kubrick, com seu visualmente irretoc�vel Barry Lyndon (1975).

Em outros pontos do planeta, a abund�ncia qualitativa das obras tamb�m existia. Poder�amos citar diversos exemplos, mas, como a inten��o deste especial n�o � referenciar tudo o que h� de melhor no cinema, e sim analisar as principais mudan�as que ocorreram nele com o passar dos anos, sempre haver� uma ou outra obra que injustamente n�o receber� cita��o. Por�m, obras como Gritos e Sussurros (1973), do sueco Ingmar Bergman � uns dos poucos filmes n�o falados em ingl�s que concorreram ao Oscar em categorias, digamos, �normais�, para seus padr�es; o japon�s O Imp�rio dos Sentidos (1976), de Nagisa Oshima � primeiro filme n�o-pornogr�fico a mostrar cenas de sexo expl�cito; A Noite Americana (1973), de Fran�ois Truffaut, tido por muitos como a maior homenagem feita � s�tima arte pela pr�pria s�tima arte; Em Busca do C�lice Sagrado (1975), filme de estr�ia do inesquec�vel grupo de humor ingl�s Monty Phyton nos cinemas; e Solaris (1972), do russo Andrei Tarkovski.

Por�m, em meio a esta fase de pura e singular criatividade, onde surgiram muitos dos grandes filmes j� produzidos, um grupo de realizadores (que n�o estou criticando, entendam), encabe�ados por Steven Spielberg e George Lucas, viriam a revolucionar novamente o cinema, colocando-o em um status necessariamente paradoxal �quele encontrado nos primeiros anos da d�cada: o de simples entretenimento, sem qualquer inten��o intelectual e despretensioso no tocante � utiliza��o do cinema como alimentador de id�ias e reflex�es. Alguns veneram, outros depreciam, mas o fato � que a populariza��o do entretenimento puro acabou afastando o p�blico de produ��es mais engajadas e/ou complexas, voltando os holofotes de Hollywood a fitas como Tubar�o (1975), de Spielberg, e, principalmente, Guerra nas Estrelas (1977), de George Lucas, maior influente dessa muta��o cinematogr�fica.

Se o fato � ruim ou n�o, certamente ficar� a crit�rio de cada um, mas a verdade � que essa modifica��o estrutural do cinema �pop� (no underground at� existiu uma resist�ncia, embora este seja restrito � minoria de um imenso mar de gente) causara uma diminui��o abrupta e bastante sens�vel da qualidade das obras lan�adas nos cinemas. G�neros como o horror, a aventura e � tendo sido cria (ou melhor, passara a ser considerada um g�nero, pois antes j� existiam obras do estilo) desse per�odo, n�o poderia deixar de ser citado � a a��o foram os principais ocupantes das largas telas brancas presentes nas salas escuras de todo o mundo, tendo entre seus destaques produ��es como De Volta Para o Futuro (1985), de Robert Zemeckis, o melhor de todos os filmes pipoca j� lan�ados na hist�ria do cinema (e isso inclui filmes do Spielberg, Lucas, etc., etc., etc.); Os Ca�adores da Arca Perdida (1982), mais interessante obra do mais popular diretor que j� povoara este mundo; Star-Wars IV � O Imp�rio Conta-Ataca (1980); e as s�ries de terror Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo, protagonizadas, respectivamente, pelos ic�nicos Jason Voorhees e Freddy Krueger.

Mesmo assim, ao contr�rio da �d�cada perdida� que representara � m�sica, os anos 1980 ainda foram palco de algumas produ��es maravilhosas, atemporais e inesquec�veis; reais obras-primas. O que dizer de A Rosa P�rpura do Cairo (1985), um dos melhores trabalhos de Woody Allen; Veludo Azul (1986), surreal e inigual�vel obra de David Lynch; Um Tiro na Noite (1981) e Os Intoc�veis (1987), ambos trabalhos geniais de Brian De Palma (que produzira outros filmes fant�sticos no per�odo, mas me contenho a cit�-los); Era Uma Vez na Am�rica (1984), mais uma das poesias visuais irretoc�veis de Sergio Leone; Amadeus (1984), de Milos Forman, melhor cine-biografia j� produzida; Depois de Horas e Touro Indom�vel, fitas fin�ssimas de Martin Scorsese; Brazil � O Filme (1985), brilhante fic��o-cient�fica de Terry Gilliam; entre outros grandes filmes produzidos ao redor do mundo (vejam que nem citei Cinema Paradiso (1989), Ran (1985) e tantos outros...)?

Essa safra de filmes interessantes se prorroga nos anos 1990 (Os Bons Companheiros (1990); Pulp Fiction (1994); Magn�lia (1999), Antes do Amanhecer (1995), e por a� vai...), quando a ind�stria cinematogr�fica retomara, ainda que timidamente, um pouco daquela ess�ncia autoral encontrada nas produ��es �setentistas� (algo trazido de volta � tona por completo na d�cada vigente, que vem se mostrando produtora de algumas pequenas obras-primas, como Cidade dos Sonhos (2002), Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembran�as (2004); Dogville (2003); R�quiem Para um Sonho (2000); O Homem Que N�o Estava L� (2001); Dan�ando no Escuro (2001), entre outras). Claro que, mesmo com o ressurgimento desse cinema mais autoral e cerebral, o cinem�o pipoca, desconhecedor assumido do verbo �pensar�, ainda rege o andar da carruagem. O que mudou n�o foram os cavalos que a conduzem, mas sim seus passageiros.

Por�m, a excessiva contemporaneidade dessas produ��es ainda n�o nos permite uma an�lise mais t�cnica, cr�tica e imparcial delas, j� que ainda n�o passaram por aquele que � o maior detector de qualidade j� descoberto: o tempo. Ser�o filmes de �poca, que submergir�o ao desconhecimento com o passar dos anos, ou sobreviver�o eternamente como grande parte dos filmes citados neste especial? No momento, � imposs�vel responder. Ou melhor, este � um questionamento que s� o tempo poder� responder. Por isso, s� nos resta o aguardo. Esperemos e, quem sabe, tais obras n�o voltam a ser lembradas por aqueles que herdar�o a Cine Players de n�s? Tor�o veementemente para que isso aconte�a, para podermos contar a nossos filhos ou netos o orgulho que sentimos ao presenciar o momento em que foram constru�das tais obras-primas que, a exemplo daquelas feitas h� 50, 60 anos atr�s, estar�o servindo como objetos de estudo e degusta��o por pessoas como n�s, apaixonadas pela s�tima arte."




Só pra constar a estreia do blog, quem sabe um dia eu escrevo por aqui...

3 comentários:

pedromagalhaes disse...

good for us, my freeeeeend!
;)

Eduardo Paiva Costa disse...

Olá Phylippe,

Cara, bom saber que está com um blog agora. Das mídias atuais utilizadas pela juventude é, pra mim, a única que, por mais paradoxalmente que seja, consegue mostrar o interior da pessoa, sem invadir a privacidade. Pra ser bem sincero, eu também tenho um blog. Só estou esperando definir uma regularidade maior na minha agenda semanal para poder começar a postar "o que vier à cabeça".

Gostei muito do artigo do Daniel Dappizolo. Embora eu não tenha o hábito de assistir filmes (o que não necessariamente significa ojeriza à sétima arte e sim uma falta de disponibilidade ou um não cultivo do hábito em tempos já passados), sou "amarrado" em resgate histórico. A convivência no meio de órgãos de representação me forçou a, de quando em vez, fazer uso desse artíficio. Só conseguimos compreender o nosso mundo atual, se tivermos uma cultura de "leitura histórica" dos fatos. Isso em todos os segmentos da sociedade, inclusive o cinema!

Concordo com o articulista quando ele diz que hoje, devido a contemporaneidade, ainda é dífícil tecer análises sobre o cinema atual com a mesma propriedade de quem a tecerá daqui a 10, 20 anos. Mas acho que está cada vez mais crescendo a parcela de aficcionados que sentem a necessidade de temas com o mesmo caráter político e autoral do cinema setentista. Que infelizmente nao tem o mesmo apelo mercadológico de outros temas. Mas com certeza são mais belos, por conseguirem adequar uma mensagem à linguagem da arte! É o que eu acho...

Qualquer dia desses eu assisto um filme...

Grande abraço

Eduardo Paiva Costa disse...

Putz não revisei o comentário. Saiu com alguns errinhos de sintaxe, conjugação e conexão... Releve garoto